A programação e a robótica, quando introduzidas de forma lúdica e adaptada à idade, oferecem uma série de benefícios para crianças em idade pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico. Estas atividades, além de serem muito divertidas, estimulam o desenvolvimento de diversas competências essenciais para o futuro. Conscientes disso, a requalificação da Escola Básica Louro Artur, realizada em 2023-2024, na sequência de uma candidatura (RE)Criar a Biblioteca, com o apoio da Rede de Bibliotecas Escolares, incluiu nos recursos necessários à sua requalificação, um Robot. Escolhemos o talbot da MATALAB, representado em Portugal pela Areal Editores, pela sua robustez e versatilidade. O Robot carrega-se via USB e tem uma caixa de atividades associada, bem como diversos complementos.
O objetivo principal do projeto é realizar a mediação de livros e leitura, para as salas de Educação Pré-escolar e 1.º ciclo, ligada às aprendizagens essenciais previstas para esses níveis, em cada domínio. Todas as atividades partem sempre de um livro ou conjunto de livros e visam valorizar o livro e a leitura, ao mesmo tempo que se trabalha o currículo..
Os benefícios das atividades utilizando robôs são já conhecidos e foram comprovados cientificamente, mas destacamos alguns:
Desenvolvimento do pensamento computacional: aprender a decompor problemas em partes menores, identificar padrões e criar soluções é fundamental para o desenvolvimento do pensamento lógico e crítico.
Criatividade e resolução de problemas: ao programar e construir robôs, as crianças são incentivadas a pensar de forma criativa e a encontrar soluções inovadoras para desafios.
Colaboração e trabalho em equipa: a maioria das atividades de programação e robótica pode ser realizada em grupo, o que promove o trabalho em equipa, a comunicação e a cooperação.
Autoconfiança: ao verem os seus projetos tomarem forma, as crianças desenvolvem a autoconfiança e a autoestima.
Matemática e ciências: a programação e a robótica envolvem conceitos matemáticos e científicos, como geometria, medidas e física, de forma prática e divertida. Esses projetos podem partir sempre de sessões de leitura recreativa.
Linguagem: a programação exige a utilização de uma linguagem precisa e concisa, o que contribui para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita.
Preparação para o futuro: as competências desenvolvidas através da programação e da robótica são altamente valorizadas no mercado de trabalho atual e futuro.
Face ao sucesso das atividades realizadas no final do ano letivo anterior a título experimental, em 2024/2025, decidimos que o projeto poderia ser alargado à Escola Básica de Santa Maria, sempre que os docentes estivessem interessados em aliá-las quer à promoção da leitura quer ao desenvolvimento do currículo. Escolheu-se a Semana da Leitura 2025 para apresentar as diferentes possibilidades.
Assim, desde outubro de 2024, foram implementadas as seguintes atividades, no âmbito deste projeto:
Pré-escolar, “Ajuda o Bot” - Para esta faixa etária, a atividade é preparada a partir de um livro musicado; os alunos escutam a história-canção e apercebem-se da sequência do livro que é folheado pela PB; a sequência das páginas está representada nas quadrículas do tapete e cada aluno vai programando o robô através das diversas páginas (uma página por aluno ou par de alunos, até se completar a leitura). (Livro escolhido Lua , de Antonio Rubio” e Oscar Villán, editado pela Kalandraka)
1.º ano, “O Robot que gosta de livros, nível 1” - Os alunos, ainda no 1.º semestre, sem terem adquirido a competência da leitura, ajudam o Robot a conquistar livros; cada aluno escolhe um livro de um grupo, previamente selecionado pela professora bibliotecária, entre os livros novos; a capa do livro está representada numa das 30 quadrículas do tapete de Robótica 6x5; cada aluno é desafiado a programar o robot desde a casa de partida até à quadrícula que apresenta a capa do livro; conquista-o e explora-o por alguns momentos; o conjunto dos livros conquistados por cada grupo de alunos (dada a dimensão das turmas e o facto de apenas termos um robô, a atividade decorre em dois turnos) é entregue ao professor, que escolhe os títulos que lerá na sala de aula ou na BE.
2.º ano, “O Robot que gosta de livros, nível 2” - A lógica é semelhante à anterior até ao ponto em que o aluno vence a prova, ganha o livro, mas, neste caso, lê os primeiros parágrafos em voz alta; esta é uma forma de valorizar a leitura expressiva, de motivar o aluno para ler e ler melhor e, no caso dos professores envolvidos, avaliar, de forma lúdica, a fluência leitora.
2.º ano,“A menina Gotinha de água” / Ciclo da Água - Para o 2.º ano, foi desenhada uma hora do conto em que os alunos têm a oportunidade de escutar e explorar um excerto de A Menina Gotinha de Água, de Papiniano Carlos (na edição ilustrada por Joana Quental para a Campo de Letras, infelizmente já esgotada, mas disponível nas Bibliotecas Municipais); em seguida, são apresentadas, de forma muito breve, as diversas fases pelas quais passa a água no seu ciclo; os alunos observam imagens representativas das diferentes fases e estados da água no tapete de robótica e, em equipas de 3 ou 4 alunos, planificam o caminho do robô (usando uma tabela 6x5 impressa); após a planificação, programam o robô, mas, desta vez, cada aluno aplica um só passo da programação e cede o passo seguinte ao colega, num exercício que exige foco, atenção, diálogo e respeito pelo outro. Esta atividade pode ser realizada como pré-atividade no contexto da unidade de Estudo do Meio sobre o Ciclo da água, mas poderá ser repetida noutras turmas, após o trabalho em sala de aula, como revisão ou reforço dos conteúdos.
3.º ano, “Conta-me coisas do teu país / Bandeiras”- Para o 3.ºano, foi preparada uma atividade com o auxílio de um grupo de alunos da turma 3.ºA; no contexto da unidade de Estudo do Meio sobre Países, Capitais e Bandeiras da Europa, os alunos selecionaram previamente alguns capítulos do livro Conta-me coisas do teu país - 30 e-mails para a diversidade”, de Jordi Costa e Daniel Cela, editado em 2005, pela Didática Editora. Os alunos lêem alguns excertos dos capítulos selecionados e, depois, iniciam o jogo; no tapete, estão diversas bandeiras das já estudadas; cada aluno recebe um cartão com o nome de um país e deve programar o robô até à respetiva bandeira; a atividade pode ser jogada individualmente ou a pares; os alunos podem ser, ainda, questionados sobre a capital do país em questão ou ser desafiados a indicar a localização do país no globo (uma das turmas, numa sessão de CLE prévia, leu o livro, sorteando os capítulos, através do rodar do globo). Nesta, como em todas as atividades implementadas até ao momento, a curiosidade sobre os livros é rapidamente despertada e os livros são entusiasticamente disputados.
4.º ano - Uma vez que estes alunos estão em fase de transição de ciclo e poderão não ter oportunidade, no futuro, de trabalhar com robôs, as turmas puderam realizar duas atividades distintas.
“Vamos ler Martim?”: O livro “Martim”, obra premiada de duas autoras bascas, Alaine Agirre (texto) e Maite Gurrutxaga (Ilustração), que celebra a amizade e promove a aceitação da diferença, apresenta, a dada altura, um padrão de borboletas desenhadas pela personagem principal; o tapete de robótica repete esse padrão com borboletas diferentes; os alunos devem atravessá-lo, somando pontos até chegar à personagem; a atividade enquadra-se noutra mais alargada de leitura coletiva e conversa em torno do texto.
“Let’s find your animal?”: Nesta atividade, totalmente falada em inglês, os alunos são chamados a ativar as suas competências em língua inglesa, recordando o vocabulário da unidade “Animals” e a construção de pequenas frases; trabalham a pares aos quais é distribuído um cartão com o nome de um animal em inglês; o primeiro par lê a palavra, procura a imagem do animal no tapete e discute sobre como programar o robô até lá chegar; cada par programa o seu robô, sendo que o par seguinte não volta à casa de partida e programa o seu robô para encontrar o animal a partir do ponto em que ficou o par anterior. Ao completar o objetivo, cada aluno deve dizer em voz alta e corretamente uma frase, usando a palavra-nome de animal. Esta atividade é precedida pela leitura expressiva de um excerto de The Jungle Book, um dos livros em inglês que existem na BE, e pela apresentação de outros livros nessa língua que os alunos poderão requisitar.
O balanço deste projeto tem sido bastante positivo. Por ser uma atividade bastante lúdica, os alunos aderem muito bem, mostram a sua curiosidade, respeitam as regras, pedem sempre mais e a forma como olham os livros trabalhados é sempre muito animadora, pois demonstra motivação em conhecer o livro; por colocar os alunos em situação de confronto natural com a leitura, a sua e a dos outros, fora do espaço da sala de aula, a mesma é valorizada, os alunos querem ler mais e querem ler melhor, pois sabem que isso é condição para o sucesso na atividade.
Este é, sem dúvida, um projeto a continuar e uma forma de trabalhar os livros e a leitura, em articulação com múltiplas competências previstas no currículo das diversas áreas.